“Nessas dez composições nada é deixado ao acaso, tudo é medido e viaja em um admirável equilíbrio entre os elementos, onde também e sobretudo o silêncio tem um papel importante, criando uma espécie de espaço para viver de acordo com essa estética do vazio, tão cara à filosofia oriental.”
Argonauta Maganize (Itália)
Em seu segundo álbum como líder, Leandro Cabral apresenta um som introspectivo e grandioso. Somando a preciosa acústica do teatro Alfa, onde o disco foi gravado ao vivo, à afinidade bem sedimentada de seu trio e às suas composições originais que participam de um mundo brasileiro contemporâneo, Alfa é um álbum singular.
Acompanhado de jovens músicos de grande destaque em sua geração – Sidiel Vieira no baixo acústico e Vitor Cabral na bateria e percussão – Leandro propõe uma interação entre música brasileira, improvisação jazzística e uma certa introspecção do jazz europeu. Na única canção do álbum há a especial participação da cantora revelação Vanessa Moreno e do grande saxofonista Cássio Ferreira.
Contrapontos, claves ancestrais pulsantes, espaços e texturas dão suas cores. A liberdade na interpretação de cada nova performance cria uma identidade particular. Uma interação sutil e profunda se dá na dança dos instrumentos e linguagens. Seu piano tem caráter de jazz contemporâneo e algumas de suas composições estão enraizadas em ritmos brasileiros pouco usuais para essa formação, como o vassi (“O amor que se deu – Vassi n.2” e “Rute e sua grandeza – Vassi n.1”) e o ijexá (“Alfa”), ambos oriundos do universo percussivo baiano. Há também espaço para arranjos arrojados de clássicos como “Rapaz de Bem” de Johnny Alf, e “Outra Vez” e “Inútil Paisagem” de Tom Jobim. Duas peças autorais piano solo sublinham o caráter minimal presente na obra.
Com atenção absoluta em cada detalhe, tudo foi selecionado com muito cuidado. O teatro, o piano Steinway D Hamburgo – que foi escolhido por Nelson Freire na própria fábrica alemã – uma captação de áudio impecável e vídeos que traduzem a essência do álbum. Alfa abre um caminho.
Fotos: Pandalux
“Ao refletir sobre as propriedades do som em uma entrevista, depois publicada no livro ‘Sobre a Música’, Karlheinz Stockhausen conclui a altura ter sido supervalorizada durante o período em que predominou a música tonal. No pólo oposto, a duração foi preterida, talvez pelo fato de as outras propriedades a pressupor de algum modo. Stockhausen denuncia o equívoco deste juízo, justamente pelo fato de a duração poder comportar um fenômeno temporal impossível para as outras propriedades. A duração é capaz de comportar o silêncio. O silêncio é decisivo para a música. Ele fronteira inicialmente os eventos sonoros. Entretanto, tão logo o todo da peça musical se constitua e se intensifique pela apreciação estética, não raro a situação se inverte, e bem podem os silêncios atuar positivamente como centro da obra, condicionando todo soar à função de delimitar sua existência. Atento a sutileza desta condição, Leandro Cabral deixou que o vazio, os espaços e o silêncio conduzissem desde a composição de suas peças até sua encarnação no álbum que se apresenta. Por esta razão, deixemos também que nos conduza, e por ele nos façamos capaz de receber.
‘Trinta raios convergentes perfazem a roda, mas é o vazio central que a faz rodar (…) Paredes e portas perfazem a casa, mas é o vazio interior que a faz morada (…) O caminho é vazio, para poder ser trilhado, não pode ser preenchido (…); porque vazio, semelhante ao fole, sua música é inesgotável.’ Tao Te King 4, 5, 11.”
Silvio Moreira – Esteta e professor M.e da Faculdade Souza Lima & Berklee
1 O amor que se deu – Vassi n.2 (Leandro Cabral)
2 Outra vez (A.C. Jobim)
3 Rapaz de bem (Johnny Alf)
4 Rute e sua grandeza – Vassi n.1 (Leandro Cabral)
5 A dança (Leandro Cabral)
6 O grande azul (Leandro Cabral)
7 Valsa do amanhã (Leandro Cabral)
8 Alfa (Leandro Cabral)
9 Marcela (Leandro Cabral)
10 Inútil Paisagem (A.C. Jobim)
Leandro Cabral: piano
Sidiel Vieira: contrabaixo acústico
Vitor Cabral: bateria
Participação Especial
Vanessa Moreno: Voz
Cássio Ferreira: Saxofone soprano
Produção musical e arranjos: Leandro Cabral
Gravado em 06, 07 e 08 de janeiro de 2016 no Teatro Alfa, São Paulo
Produção executiva: Leandro Cabral | Assistência de produção: Luci Traça e Marcela Corano | Áudio: Adonias Souza Júnior | Assistência de áudio: Daniel Tapia | Roadies: Thales Menezes, Igor Menezes e Rodolfo Radiante | Mixagem e masterização: Adonias Souza Júnior – Estúdio Arsis | Manutenção e afinação de piano: Armando Arone | Piano: Steinway D Hamburg | Desenho de luz: Carol Autran | Fotografia: Agê Barros e Rodrigo Bressane | Assistência de fotografia: Lucia Honda | Direção, captação e montagem de vídeo: Marq Audio Visual | Coloração de vídeo: La Casa de la Madre | Tradução e revisão: Reginaldo R. Raposo | Design gráfico: Denise Fujimoto
Teatro Alfa
Direção de superintendência: Elizabeth Machado | Gerência Operacional: Fernando Guimarães | Sub Gerência Operacional: Haroldo Constanzo | Coordenação Técnica: Luís Reis | Técnica de Palco: William Reis | Técnica de iluminação: Yves Christian, Cláudio Gutierres e Tiago Magro